segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As Irmandades Religiosas Negras


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A seguir, um texto sobre as Irmandades Religiosas Negras.

 http://correionago.ning.com/profiles/blogs/irmandades-religiosas-no-1


 

Irmandades religiosas no Brasil: luta e resistência negra

Postado por Luciane Reis em 9 janeiro 2011 às 19:07

 

Entende-se por movimento negro no Brasil as diversas maneiras de atuação por parte dos negros diante da ordem racista vivenciada no dia a dia. Neste caso, a Irmandade do Rosário dos Pretos, em Salvador, configura-se como uma das formas assumida pelo movimento negro ao longo de sua história de resistência. Constituindo-se enquanto grupo, esta irmandade religiosa compostas por negros em muito atuou como canal de acesso ao meio social brasileiro, bem como um espaço de reconstrução da identidade étnico-racial.

Independentemente da diversidade cultural encontrada no Brasil, no início de sua formação era impossível viver outra forma de manifestação religiosa que não fosse a católica.Para Portugal, a formação social do Brasil implicou, dentre outras coisas, na unificação moral e política das raças aqui presentes contra os “hereges” protestantes, representados em  figuras diversas. Aos poucos, vários grupos étnicos, na tentativa de ocupar uma posição de prestígio na sociedade brasileira, começaram a experimentar em vários lugares públicos uma certa “ intimidade”, com os santos católicos, forma  esta de se refugiar das punições estabelecidas pela estrutura social vigente na época.

No caso específico das experiências negras, apesar de terem se moldado à forma católica, traços culturais africanos se mantém ou re-significaram. Enquanto a colônia interpreta os cultos afro-brasileiros como uma forma profana de se adorar aos Deuses, informando ao Santo Ofício naquele tempo que se tratava de “folclore”, nada diferente dos dias atuais, onde é tratada como diversão e não como sagrado,  a população negra conseguiu preservar fatores centrais de continuidade de sua ancestralidade.

Estudos sobre o culto afro no Brasil fazem alguns pesquisadores  intuirem que, na experiência particular entre os elementos culturais africanos e os símbolos do catolicismo fatores estruturais  incidiram no fenômeno do “sincretismo”. Dessa maneira , as conformidades existentes entre os santos da Igreja Católica e os orixás do Candomblé além de terem ocorrido por força da imposição católica da época, decorreriam também das influências estruturais imbricadas nos símbolos  religiosos. Dentro desse contexto, a presença de negros nas várias confrarias religiosas é um dos indicadores desta postura da Igreja Católica, mesmo porque, não é de admirar-se que nessas condições o homem de cor reagisse no Brasil exatamente como nos Estados Unidos e que transformasse esse catolicismo do qual se queria fazer como um meio de controle social e de integração numa sociedade que o maltratava, num instrumento, pelo contrário, de solidariedade étnica e de reivindicação social. (Braga, 1980).

Para a Igreja Católica, as irmandades foram um dos meios mais eficazes de converter ou até mesmo submeter diversos grupos étnicos, tais como índios, mouros e negros, ao catolicismo. Alguns estudiosos afirmam que, no Brasil, várias irmandades estiveram por muito tempo sob o controle da coroa portuguesa, submetidas à fiscalização do setor eclesiástico. As confrarias religiosas já existiam em Portugal desde o século XIII e dividiam-se em irmandades e ordens terceiras. Ao longo de suas existências, muitas irmandades negras foram elevadas à categoria de ordem terceira, como foi o caso da Irmandade do Rosário dos Pretos do Pelourinho. Atividades como empréstimo de dinheiro a juros para os membros integrantes das confrarias foram revividos no Brasil, primeiro por irmandades mais ricas, constituída por brancos  e depois copiada por outras irmandades.

É importante destacar que as irmandades religiosas compostas por negros, além de assumirem a assistência médica e jurídica, o socorro em momentos de crise financeira, e os funerais tanto de membros dessas associações quanto de seus familiares, também se responsabilizavam pela compra de alforrias de outros escravos. A partir do compromisso, lei que estabelece os estatutos da organização e da sua aprovação pelas autoridades eclesiásticas, estas associações eram reconhecidas no meio social. Era obrigação de todos os membros dessas confrarias seguir à risca os seus mandamentos.

Contavam como requisitos básicos na sua estruturação a categoria socioeconômica e a cor da pele. As Irmandades do Rosário, trazidas pelos jesuítas, foram as mais numerosas em todo o Brasil colonial, tradicionalmente dividida entre as de crioulos (pretos nascidos no Brasil), mulatos e de africanos. Estas, como as demais confrarias religiosas, estruturavam-se em torno de uma mesa presidida obrigatoriamente por alguém da “raça”. Dentro dessa exigência, deveria ser escolhido um juiz ou presidente, no caso das irmandades, e um prior no caso das ordens terceiras.

Para fazer parte da Rosário

 A Irmandade do Rosário dos Pretos foi erguida e confirmada na Sé Catedral,  no inicio do século XVIII, entre 1703-1704. Os membros da confraria conseguiram levantar a sua própria capela às Portas do Carmo. Era de fundamental importância a obtenção de um espaço próprio para que fossem realizados tanto os rituais religiosos como as atividades sociais dirigidas ao negro. Durante grande parte do século XVIII, depois de sucessivas tentativas para a concessão de um terreno por  D. João V, é que se dá a construção da igreja, concluída em 1812. Ainda hoje, situada no Pelourinho, apresenta-se como um dos principais símbolos para a população negra da cidade.

Para se fazer parte da irmandade algumas qualidades básicas eram exigidas aos membros que se candidatassem para fazer parte da mesa das confrarias. De acordo com o compromisso de 1820, era preciso ser pessoa livre, para estar  apto, exercer e satisfazer os atos de Irmandade, livre de  qualquer infâmia a que está sujeita a condição servil. Ressaltava que pessoas " sujeitas" poderiam exercer os cargos de mordomo da festa, desde quando pudessem cumprir suas obrigações e satisfazer as exigências econômicas de costume, assim como, serem Irmãos da Mesa desde quando tivessem bom procedimento e seu cativeiro fosse suave. 

No entanto, acentua que em nenhum caso, poderiam ser escravos, os elementos responsáveis pela direção da Irmandade, ou seja, juizes, escrivões, tesoureiro, etc. Os membros da mesa do Rosário dos Pretos deveriam, principalmente, ter boa conduta e ser reconhecidos socialmente, a fim de assegurar a confiança entre os demais integrantes da confraria. Além dessas qualidades, os confrades deveriam possuir boas condições econômicas, pois era, sobretudo, através das contribuições materiais dos seus membros que as irmandades realizavam seus rituais fúnebres e festivos, ornamentavam sua capela garantindo a ascensão social e econômica da irmandade e de seus membros.

Por conta disto, ainda hoje, a Igreja do Rosário dos Pretos no Pelourinho, apresenta-se como um dos lugares ou territórios no qual são revividas experiências culturais negras, constituindo-se fator de identificação para os movimentos negros, mesmo diante da  nova realidade religiosa. Durante a escravidão, as irmandades e outras expressões negras, representaram ponto central de encontro de cidadãos negros. A diversidade de elementos culturais africanos presentes no Brasil influenciou, a composição dessas organizações. É desse modo que percebemos o significado da Irmandade do Rosário dos Pretos do Pelourinho, enquanto movimento social da população negra, no passado, que ainda ressoa na atualidade, parabéns Irmandades.


Luciane Reis - coordenadora pedagógica do Instituto

Mídia Étnica.

 

 
 

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Afroabraço.