O IV Seminário Artefatos da
Cultura Negra no Ceará justifica-se pela necessidade de se aprender e
ensinar a História da África e dos Afrodescendentes no Brasil em todas
as suas dimensões da Educação, tendo como base norteadora as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação e para o Ensino de Historia e Cultura Afrobrasileira e Africana.
As ações propostas tem como relevância a formação de profissionais de
Educação, estudantes e demais participantes/pesquisadores acerca dos
diversos aspectos da História e da Cultura da População Negra em nível
nacional e local evidenciando os aspectos materiais e imateriais.
Dizem os mais velhos das casas de candomblé que os atabaques conversam
com os homens. Cada toque guarda um determinado discurso, passa
determinada mensagem, conta alguma história. O tocador dos tambores
rituais precisa conhecer o toque adequado para cada orixá, vodum ou
inquice. Se o drama representado pela dança de um orixá se refere ao
combate, o toque é um - em geral com características marciais. Se a
ideia é contar através da dança sacra uma passagem de paz, o toque é
outro. Há toques para expressar conquistas, alegrias, tristezas,
cansaço, realeza, harmonia, suavidade, conflitos... Não se deve, sob
nenhuma hipótese, bater para um determinado orixá um toque que não se
relacione às suas características.
É importante lembrar que um xirê, a festa de candomblé, é o
momento em que os orixás baixam nos corpos das iaôs para representar -
através da dança, dos trajes e emblemas - passagens de suas trajetórias.
Através da representação dramática, a comunidade se recorda do mito e
dele tira um determinado modelo de conduta. As danças, ao contar
histórias protagonizadas pelos orixás, servem de exemplo para os membros
do grupo. Ritualiza-se o mito em música e dança, crença e arte, para
que ele continue vivo para a comunidade, cumprindo assim sua função
modelar.
De todos os toques sacros do candomblé de Ketu, o Ijexá é provavelmente o
mais suave. Vale esclarecer, para inicio de conversa, que a palavra
Ijexá origina-se do vocábulo Ijèsá, uma subdivisão da etnia
iorubá e o nome da cidade nigeriana que é considerada o berço do grupo.
Nessa cidade se cultuam sobretudo Oxum e Logun-Edé - e o Ijexá designa o
ritmo das danças principais desses orixás. Tocam-se, também, ijexás
(ainda que não seja o ritmo predominante) para Exu, Osain, Ogum, Oyá,
Obá, Oxalá, Orunmilá ...
O Ijexá é apresentado nos terreiros somente com as mãos, dispensando-se o
uso dos aguidavis (as baquetas de percussão). O ritmo é suave e
cadenciado, emoldurando a dança dengosa e sensual de Oxum e Logum. O gã
(agogô) acompanha sempre os atabaques, marcando o compasso.
De ritmo dos terreiros, o ijexá acabou também chegando ao carnaval, a
partir da criação dos afoxés baianos (cortejos carnavalescos de adeptos
do candomblé) no final do século XIX. Algumas pessoas e até mesmo alguns
livros fazem certa confusão ao citar o afoxé como um ritmo. O afoxé é o
cortejo - o ritmo que emoldura o cortejo é o ijexá. A expressão afoxé,
inclusive, vem do iorubá àfose (encantação pelo som, pela palavra) . Os cubanos usam a expressão afoché
para designar o ato de enfeitiçar alguém com o pó da magia. Ao toque
do Ijexá, os antigos afoxés buscavam encantar os concorrentes,
desfilando pelas ruas em formato processional. O afoxé Filhos de Gandhi,
fundado por ogãns de candomblé na década de 1940, até hoje se
apresenta no carnaval ao som do ijexá - e começa sempre o cortejo
tocando para Logun-Edé.
Os que já viram um xirê certamente se recordam das danças de Oxum e seu
filho Logun-Edé, simulando o banho vaidoso nas águas dos rios, enquanto
se miram no espelho e seduzem a todos de forma faceira e, vez por outra,
enganadora. O toque do Ijexá busca descrever, por isso, a cadência
sedutora e feiticeira das águas.
O mestre Nei Lopes, referência fundamental para quem se interessar pelas
culturas africanas e o Brasil, compôs no início dos anos 80 um ijexá em
homenagem a Logun-Edé, magistralmente gravado por Clara Nunes. É um
exemplo contundente da importância dos ritmos sacros para a música
brasileira. A gravação abaixo, garimpada no youtube, é interessante
porque começa com o ijexá tocado nos terreiros e abre para a gravação da
guerreira, a grande Clara:
Os tambores
africanos podem ser usados tanto como instrumentos musicais quanto como
objetos cerimoniais e no passado como meios de comunicação. Esses
instrumentos abrangem desde os simples objetos do cotidiano, peças
simples ou ornamentadas que sinalizam o status do proprietário,
denotando poder e honrando os antepassados. O Gbedu que significa
literalmente "grande tambor" é um instrumento de percussão
tradicionalmente usado na música Ioruba cerimonial da Nigéria e do
Benin. O Iya Ilu, tambor principal dentro do conjunto dos tambores
Gbedu e empregado nos cerimoniais da realeza ou para os adivinhos. O
corpo do tambor Iya Ilu tambor é considerado "sujeito do culto"
recebendo frequentemente oferendas e sacrifícios. Os tambores
cerimoniais dos Iorubas são entalhados com relevos profundos
figurativos. O bocal é recoberto por pele de antílope empregando
cordas e estacas para a afinação e podendo ser percutidos ora com as
mãos ora com varetas.
Tradição – tambor cerimonial
O
tambor Gbedu é usado tradicionalmente nas ocasiões oficiais ou durante
as cerimônias Ogboni, a antiga sociedade secreta Ioruba. O Ogido/Gbedu é
uma das quatro grandes famílias de tambores Iorubas; as outras
famílias são Dundun/Gangan os tambores falantes, o tambor Batá e o
tambor Sakara. Cada família compreende tambores de diferentes tamanhos,
tendo como « mãe dos tambores » o (Iya Ilu) que desempenha o papel
principal entre os demais. O tambor que dá apoio ao Gbedu é tocado por
um percussionista que emprega tanto as mãos quanto as varetas para
tocar.
Conta-se
que o tambor de Gbedu foi trazido para a região de Lagos no século
XVII por diplomatas Edo, simbolizando a hegemonia do Império do Benin.
Entre os Iorubas, o tambor Gbedu significa realeza. O maior dos
tambores Iorubas, era tocado apenas à serviço do rei. Em cerimônias
como o ritual Isagun, o Oba pode dançar ao som da música desse tambor.
Se alguém usasse esse tambor, seria preso por rebeldia.
Antigamente
acreditava-se que o tambor grande e ornamentalmente esculpido possuía a
proteção de um espírito, o do escravo que havia sido sacrificado
quando o instrumento ficava pronto. Esse tambor é recoberto de entalhes
que representam os animais, as aves e o falo. Durante as cerimônias em
que se utilizava o tambor borrifava-se o sangue sacrificial sobre os
entalhes juntamente com o vinho de palma, gemas de ovos e penas da
galinha sacrificada. No corpo do Iya Ilu pode haver um entalhe com a
imagem de Olokun, a deusa do mar, considerada o "sujeito do culto".
Conta-se
que, durante os últimos dias do Império de Oyo, quando os fulas já
haviam capturado Ilorin e se tornado senhores de Oyo, Sita, o rei de
Ilorin pediu a Oluewu, o rei de Oyo para visitá-lo e prestar uma
homenagem. Oluewu possuía o tambor Gbedu que tocou antes de sua viajem.
Quando Sita perguntou sobre o tambor e ele avisou que esse instrumento
só podia ser tocado diante de um rei, ficou irritado dizendo que só
podia haver um rei, ele mesmo, e retirou o Gbedu da corte.
Há
um velho provérbio Ioruba diz "a menos que o um bode seja morto, não se
pode fazer o Gbedu com sua pele". A implicação é de que uma pessoa só
será capaz de olhar para seus próprios interesses enquanto eles estão
vivos. Outro provérbio diz que "a pele de um porco não pode ser usada
para fazer um tambor Gbedu”, que significa que não é todo material que
pode ser usado para qualquer finalidade. "Nenhum ladrão rouba um tambor
Gbedu" é um aviso para não tentar o impossível.
Me
perdoem a extensão desse texto apresentação. Tentei ser nano, mas não
deu. Enfim, quando tiverem tempo, leiam. Parece valer a pena.
Muita gente me pediu, indicou, solicitou, orientou, aconselhou,
empilhou, sugeriu que explorássemos outras mídias virtuais para divulgar
não só meus trabalhos, mas, também, acompanhar, na medida do
‘impossível’, a Literatura Negra que vem sendo desenvolvida no Brasil e
no mundo.
Entendi ser uma tarefa complicada, sobretudo diante
da informação de que, aqui no Brasil, a maioria dos estudantes
universitários dão o vergonhoso exemplo de ler menos de quatro livros
por ano, segundo as mais recentes estatísticas. Logo, já entramos nessa
história, perdendo.
Hesitação houve, até quando foi possível.
Porém, a convicção de que podemos formar leitorxs nos espaços mais
inusitados da vida serviu como bússola e leme ao mesmo tempo, afinal,
minha experiência pessoal é um desses casos. Daí, vamos que vamos.
Acompanhe-nos.
Atualmente, o trabalho que desenvolvo com literatura Negra vem ocupando
um espaço em meu perfil, se confundindo com as demais temáticas que
abordamos, gerando em alguns momentos uma confusão gostosa, o que não
deixa de derivar mais confusão boa de saborear, mas, ainda assim,
confusão. (*sorriam)
Topei o desafio-proposta e aí estamos com novas mídias, ampliando nossas possibilidades. Segue a organização das publicações:
• A ferramenta da Ogum’ s Toques http://ogumstoques.wordpress.com/
ficará em permanente desenvolvimento, a fim de aprimorá-lo cada vez
mais e já tem cinco postagens nada tímidas para um blog recém
construído.
Obs.: Bom ressaltar que não se trata de um blog
acadêmico, logo as publicações pessoais transcorrerão sem a rigidez ou
rigor científicos necessários aquele contexto. Também não temos
compromisso com nenhuma corrente literária que não seja a Literatura
Negra.
1. Na categoria Egbomy & M'Pangi Literários
(Escritores que Adoro) temos a luxuosa Mel Adún com seu ‘Quantas
tantas’. Lá poderão encontrar um link para o site da UFMG, no qual
outros textos da autora foram publicados.
2. Já em Cabaça
Nossa (Livros Negros) daremos dicas, nada pretensiosas, sobre livros de
autorxs Negrxs envolvidxs direta ou indiretamente com uma abordagem
preta, sem os estigmas naturalizados pelos escritorxs brancxs, revelados
nas descrições, papéis, enredos, perspectivas dentre outros elementos
narrativos contidos em seus personagens Negros.
Detalhe: É
importante lembrar que, quando menino, ‘Livro Negro’ era uma designação
preconceituosa para o livro da capa preta proibido de São Cipriano,
paradigmas de um país racista.
Enfim, o livro apontado essa
semana é o Things Fall Apart do Chinua, e está no pequeno
artigo-comentário Chinua Achebe: Leitura obrigatória, embora prazerosa
ao extremo. ‘De quebra’ temos uma primeira parte do filme que foi
roteirizado a partir do livro desse autor.
Sintam-se livres
para enviarem suas sugestões de literatura Negra para o email
ogumstoques@gmail.com. Incluiremos indiscriminadamente qualquer
indicação, desde que devidamente assinada e com um mínimo de razões que a
respalde.
3. No Pré-Sal Literário temos um material
pancadeiro do pensador Ricardo Riso, sob o título Malangatana Valente –
poemas. Deliciem-se e acompanhem seu blog. É primoroso e de fato um
pré-sal literário.
4. Já no Assentamento Literário temos os
nano-contos da Ogum’ s Toques Negros, alguns requentados outros
inéditos. Aos sábados teremos de volta, para felicidade geral da nação
Preta, as Poesias Pretas Sabáticas.
Enfim, é isso. Espero
verdadeiramente que gostem. Comentem. Critiquem. Divulguem.
Compartilhem. O desafio que temos pela frente, enquanto escritorxs
Negrxs é gigantesco e quanto mais armas reunirmos nessa guerra, melhor.
Ou seja, outras cantigas estão a caminho. Desejo muito que esse espaço
propicie bons encontros, debates respeitosos e enriquecedores e tudo
mais que merecermos e somos sabedores que merecemos o melhor dessa vida,
‘apesar de tanto não e tanta dor que nos invade (...)’.
P.S.:
No twitter já estamos presentes diariamente com os nano-contos da Ogum’
Toques Negros, muitos já publicados em minha página virtual e tantos
outros inéditos.
III ENCONTRO INTERNACIONAL DE LITERATURAS, HISTÓRIAS E CULTURA AFROBRASILEIRAS E AFRICANAS
O ÁFRICA
BRASIL - III ENCONTRO INTERNACIONAL DE LITERATURAS, HISTÓRIAS E CULTURAS
AFRO-BRASILEIRAS E AFRICANAS: Narrativas e Identidades Culturais e o V
COLÓQUIO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA, organizados pelo
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS AFRO - NEPA e o MESTRADO EM LETRAS DA
UESPI visam estabelecer intercâmbios dos saberes através da investigação
científica e da interdisciplinaridade.
O reconhecimento da História e valor da Cultura dos afro-brasileiros,
afrodescendentes e africanos pelo próprio negro e o não negro desloca
preconceitos e estereótipos elaborados ao longo de vários séculos de
escravidão e desrespeito à humanidade dos povos e civilizações
colonizadas pelo ocidente. O nosso objetivo é promover estudos, sob a
ótica da pluralidade de experiências e saberes, da multiculturalidade,
do respeito à diferença, possibilitando o debate e o conhecimentos de
conteúdos disciplinares atualizados nas áreas de Literatura, História e
Cultura Afro-brasileiras, Africanas, Indígenas (Leis 10.639/2003 e
11.645/2008) e Gênero. Com o
propósito de disseminar o conhecimento, a leitura e a produção
cultural/científica durante o Evento, realizaremos o II SALÃO DO LIVRO
UNIVERSITÁRIO - SALIU através da participação de editoras
Universitárias. Por se tratar de um evento de âmbito Internacional, o
ÁFRICA BRASIL - III ENCONTRO INTERNACIONAL DE LITERATURAS, HISTÓRIAS E
CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS E AFRICANAS cria novas perspectivas para o
Mestrado em Letras da UESPI (Literatura, Memória e Cultura),
intercambiando o diálogo científico, pedagógico e cultural entre a
comunidade acadêmica, professores e pesquisadores de diferentes regiões
do Brasil, da África e da Diáspora. Ressaltamos ainda, que esta é a
terceira edição do primeiro evento de caráter internacional da
Universidade Estadual do Piauí.
A CULTURA YORUBA E O BRASIL NO FESTIVAL DE ARTE NEGRA EM LAGOS, NA NIGÉRIA.
De 04 a 09 de Outubro de 2013 será realizado em Lagos, capital da Nigéria, o Festival de Arte Negra.
Festival de Arte Negra de Lagos, Nigéria
O SIMPÓSIO
CHAMADA para RESUMOS e TRABALHOS
Tema
O NEGRO NO MAR MEDITERRÂNEO: RUMO AO BRASIL e REGRESSO
04-06 de outubro, 2013 Freedom Park, Broad Street, Lagos
Temas propostos, mas não se limitam a:
Primeiros Contatos portugueses (modelo Civil, ou Cidade de
Sangue?) * O Portugal e o Tráfico de Escravos * O Mercado de Escravos da
África de Leste * A aventura do Portugal Colonial * Libertação e
Ideologia nas Colônias * A revolta dos militares Portugueses e a
Libertação dos Africanos * Raça e Cor no Brasil * do Nascimento e o Mito
de Sociedade Sem Raça * o Movimento de Teatro Negro no Brasil * Deuses
africanos no Brasil * Recuperação da História da Escravidão brasileira
(escavações arqueológicas) * Percorrendo os continentes – a conexão
Favela * Cantor senegalês de Tradição e Música de Fado * Poesia e Luta –
dos Santos, Andrade, de Souza etc * A arquitetura Portuguesa /
brasileira na África * Libertação e Cultura – Literatura da Arte na
África Lusófona * África no Cinema Brasileiro * O Brasil e o Movimento
de Cinema Nigeriano * Os “Jogos” em Guine-Bissau – Massacre e estupro em
um Estádio de Esportes * O Segredo da Paz de Moçambique – Lições para
um Continente
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Os estudiosos interessados são convidados a enviar seus trabalhos.
Os resumos não devem exceder 250 palavras, e devem estar em Inglês,
Português, ou Francês. Eles devem ser digitados em formato Word, em
espaço duplo em fonte Times New Roman 12pt, e enviados por e-mail ou por
correio. Deve constar o nome do autor, instituição de afiliação com
endereço completo, endereço de e-mail do autor e número de telefone, e
enviado para: